terça-feira, 12 de maio de 2009

Alunos que não fizeram o segundo exercício

Segue abaixo a listagem dos alunos que não constam como tendo feito o segundo exercício. Faço essa listagem porque posso muito provavelmente ter cometido algum engano e preciso da confirmação de vcs para corrigir minhas listagens aqui.

Assim, então, consta que não fizeram o segundo exercício: Andre von Ah, Caio Sabino, Cristiane Jayme, Daniel Batista, Estevam Thiesen, Fábio Siotane, Gabriel Andrade, Joana Flor, José Guilherme, Larissa França, Maísa Pilla, Nayara Dias, Osvaldo Ujicawa, Pedro Monarcha, Renato Zerio, Thomas Freski.

Caramba! é muita gente!

Se seu nome estiver aqui indevidamente, me avise por e-mail.

Modelos de Exercício (o segundo)

Caros amigos,

Estou agora no meio da tarefa de corrigir os exercícios (o segundo) e, em geral, não gostando muito dos resultados, mais uma vez resolvi postar aqui dois exercícios que achei bastante completos para que vcs tomem como uma boa referência.

Reparem no modo como os dois alunos estruruam os seus parágrafos, reparem na clareza das formulações, e, mais importantemente, como eles seguem bem de perto o desenvolvimento do texto apresentando-o completamente. É claro que não são, estes, exercícios perfeitos, ou o único tipo de exercício aceitável, mas, de todo modo, são uma ótima referência para que vcs tomem, de uma vez por todas, conhecimento do que seja uma boa a-n-á-l-i-s-e de texto.

Abraço e, divritam-se:

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A Regra I das Regras para a orientação do Espírito de Descartes começa com a definição da finalidade dos estudos. Estes devem ser empreendidos de maneira a guiar o espírito por um caminho que permita a formulação de juízos sólidos e verdadeiros a respeito das coisas. Dito isto, o texto que se segue na Regra procura caracterizar o modo pelo qual este estudo deve ser feito para que dele se extraiam os melhores e mais certos resultados.

Descartes observa que há certo uso entre os homens de tomar coisas apenas semelhantes como iguais em seus julgamentos, de estender alguma verdade que é valida somente para uma coisa à outra, generalizando em falso. Devido a este costume, aproximam a ciência e a arte por alguma aparente semelhança. No entanto, o conhecimento de cada uma delas é completamente diferente em seus princípios: o da ciência provém estritamente do espírito, enquanto o conhecimento artístico tem origem no exercício prático do corpo. Estas pessoas observam que geralmente não se pode ser versado em mais de uma arte com a mesma desenvoltura, sendo então preferível aplicar-se ao estudo de uma em particular para bem executá-la. A partir disto, acham que a mesma situação se passa com as ciências, e a elas também atribuem as conclusões tiradas sobre as artes, a despeito da diferença radical entre as duas formas de conhecimento. Assim, estabelecem cisões entre as ciências de acordo com o objeto sobre o qual esta se aplica, e passam a estudá-las separadamente.

Nisto – Descartes enfatiza – erraram com certeza. Então, a partir deste ponto irá explicar este engano e evidenciar que não só este caminho se lhe apresenta como o mais difícil, mas também o que trará menos frutos. O grande erro de conceber as ciências analogamente às artes é que elas compõem a sabedoria humana, e como tal é una e idêntica. Portanto não cabe ao espírito delimitar-se em seu estudo uma vez que a ciência, embora apresente nuances conforme o objeto sobre o qual lança sua luz, é um todo, e esta característica essencial não se deve perder de vista.

Ainda diferindo do estudo das artes, cujo êxito deve ser mais bem conseguido no cultivo de um só tipo, nas ciências se passa o contrário: o entendimento é ampliado tanto mais abrangente for o estudo; cada verdade descoberta neste campo abre caminho e facilita a aquisição de outras. É de admirar, pois, aqueles que se dedicam com exclusividade a uma ciência específica, esquecendo-se das demais, fechando os olhos diante das boas contribuições que a abertura dos estudos acarretaria.

Nesta colocação Descartes mostra a importância desta regra e de seu posicionamento na obra – precedendo todas as outras considerações que estão por vir. É talvez um alerta ao espírito leitor para que não se deixe afastar do objetivo geral, da busca da sabedoria universal para recair em questões específicas ou objetivos particulares. E aqui não se trata sequer dos objetivos mesquinhos, que bem poderiam levar a vantagens fáceis. O que Descartes quer revelar são os perigos ocultos por trás dos objetivos honestos, como a procura da verdade pelo puro prazer de sua contemplação. Deve-se atentar sobretudo a estes fins dignos, pois eles, justamente por sua aparência correta, podem enganar o espírito inquiridor com mais sutileza.

Esta advertência é necessária, pois embora legítimos estes fins podem vir a restringir a visão de quem investiga algo. Se durante os estudos se tiver em vista apenas o bem final por eles proporcionado, pode-se acabar negligenciando alguma via por achar que ela não o levará a seu destino, por julgá-la inútil ou desinteressante a seus propósitos. Portanto esta maneira teleológica de conduzir os estudos seria condenável ou pouco proveitosa, pois dificulta a percepção das ciências como componentes de um todo que deve ser abordado em suas múltiplas vertentes e conexões. Uma vez que todas as ciências estão interligadas, seria inclusive mais fácil aprendê-las em conjunto, dada a dependência que têm entre si – a verdade descoberta em uma delas pode ter implicações em outra ciência, e observar estas relações apenas facilitaria a busca de outras verdades.

Assim, Descartes conclui que para alcançar a verdade científica não se deve aplicar-se a uma ciência particular, ignorando as demais. A atitude mais adequada a este respeito seria aumentar a luz natural da razão diante das questões, observando num plano geral o quadro para com clareza escolher os caminhos certos para chegar ao conhecimento.

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Na primeira de suas “Regras para Direção do Espírito”, Descartes afirma que o objetivo de se estudar deve ser o de guiar a inteligência a fim de se fazer julgamentos verdadeiros e bem fundamentados a respeito de tudo que se encontrar. Na explicação que se segue Descartes deixa claro que a motivação de tal regra é a de combater a excessiva especialização do conhecimento que então se praticava: a partir de uma falsa analogia com as artes, preconizava-se na época que assim como um músico atingiria mais facilmente a excelência se se dedicasse exclusivamente à sua arte, também um estudioso da ciência deveria se especilizar em sua área para atingir melhores resultados. Descartes nota então que enquanto as artes requerem certo adestramento físico, o mesmo não ocorria com as ciências: todos elas são igualmente expressão da sabedoria humana, a qual não muda mesmo quando aplicada a diferentes objetos. Daí então Descartes afirmar em sua regra que o estudioso deve procurar fazer julgamentos verdadeiros em “tudo o que se encontrar”; se a especilização é válida para as artes, ela não o para a Ciência.

Descartes em seguida argumenta que a universalidade nos estudos não somente é possível e factível como também é altamente desejável. O foco excessivo apenas em determinados objetos, mesmo quando motivado por intenções nobres, pode, segundo Descartes, desviar o estudioso do que deveria ser o seu objetivo principal: contribuir para a sabedoria universal. Ao delimitar seus estudos à uma área específica, o estudioso acaba sempre omitindo outras áreas que inicialmente não lhe parecem tão úteis. Isso não só o desvia do caminho da sabedoria como também dificulta seu trabalho: para Descartes, como todas as ciências estão todas mutuamente conectadas, é mais fácil aprendê-las todas de uma vez do que isoladamente.

Em seguida, Descartes conclui que o objetivo central dos estudiosos deve ser o de procurar aumentar a luz natural da razão a fim de que a inteligência instrua a vontade a respeito das decisões que se tomam na vida. Quando a Regra I fala de “tudo que se pode encontrar”, portanto, ela não se refere apenas a objetos encontráveis durante os estudos do pesquisador. Descartes de fato pretende que os estudos instruam a respeito da vida como um todo, que realmente guiem as pessoas em todas as ações de seu cotidiano, não servindo apenas para áreas de aplicação delimitadas e rígidas. Neste momento, Descartes torna ainda mais específico o tipo de especialização que ele combate ao afirmar que nunca se deve estudar com o objetivo de se resolver problemas específicos da filosofia escolástica. Logo, não são quaisquer especialistas a que Descartes se refere, mas sim aos escolásticos, o grande establishment filosófico de sua época.

Descartes declara por último que ao seguir a regra por ele proposta os estudiosos progrediriam muito mais do que o faziam então os especialistas, atingindo resultados superiores aos que eles sequer poderiam imaginar. Como claramente Descartes formula sua regra em contraposição à filosofia escolástica então praticada e sua excessiva especialização, fica evidente que para ele a escolástica de modo algum conduzia ao ideal de vida da busca da sabedoria, o que obviamente é a atividade por excelência do filosófo.

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Uma boa prova!

Caros Amigos,

queria colocar aqui uma das provas que me agradou muito, para que vcs possam compara-la com as suas e ver o que podem aprender dela, e assim melhorarem para a próxima prova.

Divirtam-se:



1) De modo genérico, explique qual é a função da Meditação Primeira, quais são seus objetivos e de que estratégia ela se utiliza para alcançá-los?

Obs: todas as citações em aspas se referem a tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior da Meditação Primeira.

A função da Primeira Meditação é a de análisar e encontrar tudo o que pode ser posto em dúvida. Descartes a inicia relatando que todas suas antigas opiniões se baseavam em bases muito incertas, acumuladas desde seus primeiros anos. A Meditação Primeira serve-lhe justamente como um meio de desfazer-se de todas essas suas tão incertas opiniões antigas. O objetivo expresso desta operação é “estabelecer algo de firme e constante nas ciências”. Descartes, portanto, não duvida simplesmente a fim de permanecer na dúvida. Seu objetivo, na realidade, é encontrar tudo que seja duvidoso para, ao fim desse processo, fundar um nova ciência que se baseie apenas no que então restou de certeza absoluta. Como ele próprio afirma, ele queria “estabelecer algo de firme e de constante nas ciências”.

A estratégia utilizada por Descartes para a rejeição de suas antigas opiniões é a utilização da dúvida metódica. Sua operação consiste em se rejeitar como inteiramente duvidoso, voluntariamente e através da razão, tudo aquilo em que se encontre o menor motivo de dúvida, o que lhe garante seu caráter hiperbólico. Além disso, Descartes constanta que derrubar uma por uma suas antigas opiniões não seria algo factível e nem necessário, já que, como “a ruína dos alicerces carrega necessariamente consigo o resto do edifício”, rejeitar os princípios de suas antigas opiniões já seria suficiente para rejeitar todas em bloco. A dúvida metódica, portanto, é radical. A fim de atingir tal base do conhecimento, Descartes segue uma ordem de duvidar que começa tratando dos objetos compostos e particulares e que por fim atinge as realidade mais simples e gerais, que seriam a base do edifício do conhecimento.

2) De modo pontual, explique as etapas argumentativas de tal estratégia, nos seguintes termos:

a) explique o significado do argumento que apela para os erros dos sentidos. Qual é a função de tal argumento, o campo de sua aplicação e o resultado dela?

O argumento do erro dos sentido afirma que, como os sentidos nos enganam algumas vezes, não seria prudente confiar inteiramente neles. A função deste argumento é por em dúvida a fidelidade dos sentidos, isto é, por em dúvida se as coisas como representadas pelos sentidos de fato são exatamente como as coisas são em si mesmas.

É pressuposto do argumento do sentido que existem objetos que se dão aos sentidos, o quais, por sua vez pertencem a um sujeito que está inserido no espaço. Logo, tal argumento pressupõe a existência de corpos, do sentido e da existência de um sujeito corporal dos sentidos. Logo, seu campo de aplicação é apenas as opiniões sobre os objetos sensíveis, que são objetos dos sentidos. Ele trata apenas das qualidades das coisas sensíveis, mas não duvida da existência delas.

O resultado do argumento do erro dos sentidos é mostar que as opiniões de objetos apreendidos através dos sentidos não são necessárias, mas apenas possíveis: se os sentidos por vezes mostram ao sujeito o objeto de maneira diferente do que ele é em si mesmo, nenhuma das opiniões mediadas pelos sentidos são indubitáveis, o que basta para, através da duvida metódica, rejeitá-las integralmente. Em suma, o argumento dos sentidos revela que entre o conhecimento do objeto e o objeto em si existe sempre o filtro dos sentidos, no qual não se pode confiar inteiramente.

b) Explique o significado do argumento dos Sonhos. Qual é a função de tal argumento, o campo de sua aplicação e o resultado dela?

A função do argumento dos Sonhos é generalizar o argumento do erro dos sentidos. Se esse argumento pressupunha a existência dos corpos, do sentido e do sujeito corporal do sentido, o argumento dos sonhos ressalta que toda a percepção sensível poderia não passar de uma criação da mente. Se durante os sonhos acreditamos receber estímulos sensoriais de objetos externos e possuir um corpo que recebe tais estímulos, e se de fato não há como saber seguramente se estamos dormindo ou acordados, então toda nossa existência poderia não passar de um grande sonho. Nós poderiamos, portanto, não possuir um corpo que seja sujeito dos sentidos, e mesmo os corpos que supostamente se ofereceriam aos nosso sentidos poderiam não existir. A função do argumento dos sonhos, portanto, é por em dúvida a própria realidade da percepção dos sentidos, é duvidar que haja objetos exteriores e que exista o próprio corpo que é sujeito da percepção sensível. O campo de aplicação do argumento dos Sonhos, portanto, é toda a experiência sensível.

O resultado do argumento dos Sonhos é que a existência do mundo exterior é posta em dúvida, assim como a própria existência corporal do sujeito e toda sua experiência sensível. Como duvida de maneira hiperbólica, portanto, Descartes se vê impossibilitado de concluir qualquer coisa de certo a partir do conjunto de sua experiência sensível. Outro resultado do argumento dos sonhos é que se esgotam as razões naturais - sugeridas pela experiência - para se duvidar: como depois do argumento restam apenas as realidades matemáticas, nada na experiência sugere algo de duvidoso nelas.

c) O que é a dúvida Metafísica? O que é o argumento do Deus Enganador? O que significa a figura do Gênio Maligno? Explique as diferenças e as relações entre ambos.

Após o argumento dos sonhos, nada resta que possa ser questionado a partir de dúvidas naturais, sugeridas pela experiência. As coisa simples e universais de que se compõem todas as coisas, as realidades matemáticas, aparecem à intuição intelectual como indubitáveis. Não se pode, a partir da experiência, duvidar que 2 + 2 = 4, pois mesmo sonhando isso é verdadeiro. Além disso, propriedades inerentes da natureza corpórea, suas essências matemáticas tais como extensão, número, localização etc. não podem de modo algum ser duvidadas. A dúvida de coisas de tal natureza é o que constitui a dúvida Metafísica: ela não se apoia na experiência, mas sim, fazendo direito do uso de duvidar, questiona a própria experiência. Além de não estar apoiada em razões naturais, sua outra característica fundamental é seu campo de atuação: ela não se restringe a nossa experiência sensível, mas sim engloba toda a nossa experiência, inclusive a intelectual, e é, portanto, universal. É nossa própria intuição intelectual que é posta em dúvida.

O argumento do Deus Enganador é uma possibilidade de se expressar a dúvida metafísica. Ao aventar a possibilidade de que exista um ser muito poderoso que engane o sujeito sempre que ele realize as intuições intelectuais mais simples e quando ele acredite que há um mundo exterior, Descarte instaura a dúvida metafísica explicitada anteriormente: como nem os resultados das intuições intelectuais mais simples são necessários para todos, mas poderiam o ser apenas para um sujeito, todo a validade da experiência intelectual é colocada em xeque. Note que nada na experiência diária sugere a existência de um Deus enganador. A dúvida que ele instaura, portanto, é apenas de direito, o que é outra característica da dúvida metafísica que é expressa por tal argumento.

A figura do gênio maligno é apenas uma operacionalização psicológica da dúvida metafísica. Descartes admite que nada dos fatos de sua experiência sugere a dúvida metafísica. O próprio costume de suas antigas opiniões fazem-no tender a lhes dar crédito, assim como a enorme probalidade de que tais opiniões sejam verdadeiras. Para vivenciar plenamente a dúvida universal, portanto, Descartes evoca a figura do Gênio Maligno, que seria um ser extremamente poderoso e que faria de tudo para sempre nos enganar. Ao supor sua existência, portanto, Descarte consegue transformar razões de duvidar em verdadeiras crenças, permitindo-se que de fato se atinja uma real suspensão de juízos e se vivencie realmente a dúvida universal, já que essa nova crença se equilibraria com as antigas.

O artifício do gênio maligno, portanto, é apenas uma metodologia psicológica. Tomar tudo que é duvidoso como falso não faz parte da operação lógica da dúvida metódica. A operação lógica consiste somente em se tomar como inteiramente duvidoso que apresentar o mínimo grau de dúvida. O papel de se estabelecer a dúvida metafísica através da lógica caberá somente ao argumento de Deus Enganador, que a estabelece de fato. O Gênio Maligno apenas instaura psicologicamente tal dúvida, ao transformar as razões de dúvidar em uma negação, em uma crença. Isto, no entanto, de modo algum elimina a dúvida, mas de fato só a fortalece, já que a instaura também no plano psicológico.